Segunda-feira, 22 de junho de 2009 – 10h40

(Leia primeiro o texto anterior)

Ainda Sobre a Não Necessidade do Diploma

A revista Imprensa (portal Revista Imprensa, 19.06.09) colheu algumas opiniões entre medalhões do jornalismo nacional quanto à decisão do STF ao extinguir a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Vamos às ditas. Volto logo em seguida.

Por Eduardo Neco

A necessidade do diploma era um interesse corporativista’, diz Juca Kfouri

O jornalista esportivo Juca Kfouri declarou ao Portal IMPRENSA que não é a favor da exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão e que a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) foi acertada.

O principal argumento de Kfouri é o fato dos ‘grandes nomes do jornalismo não terem o diploma’. ‘Essa é a minha opinião: curta e grossa’, completou. No entanto, ele salienta que é a favor da formação em jornalismo para agregar qualidade ao que é produzido.

Para ele, a lei que determinava formação específica para atuar como jornalista ‘foi herdada da ditadura militar’. Sublinhou também que ‘a necessidade do diploma era um interesse corporativista que não fazia mais sentido’."

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Por Ana Luiza Moulatlet

Para Eugênio Bucci, mais importante que o diploma é ‘a manutenção e o cultivo da liberdade de imprensa’

"Eugênio Bucci, jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), comentou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que na última quarta-feira (17) decidiu pela revogação da exigência do diploma para o exercício do jornalismo.

A primeira coisa que eu digo é que a decisão dos STF é uma coisa julgada, não é nem próprio avaliar se é correta ou não, não cabe a mim julgá-la’, afirmou Bucci. Em entrevista ao Portal IMPRENSA, ele disse que já havia manifestado, antes da decisão do Supremo, sua impressão de que o diploma já cumpriu um papel que classificaria como ‘civilizatório’ no Brasil.

Embora a exigência seja uma excentricidade brasileira, já que outros países não a tem, ela ajudou a elevar os padrões da profissão no país. No entanto, nos tempos atuais, a manutenção do diploma deixou de ser prioritária para o atendimento das necessidades do cidadão relativas à informação’.

Questionado sobre o que seria prioritário, Bucci citou como exemplo a observância, a manutenção e o cultivo da liberdade de imprensa. ‘Seria prioritário no Brasil a independência das redações e a preservação de um ponto de vista livre do poder; a capacidade de informar os cidadãos e fiscalizar o poder econômico’, declarou.

Sobre o posicionamento dos veículos de comunicação, o jornalista acredita - apesar de afirmar que não pode falar em nome das empresas - que a tendência é ‘as redações contratarem os melhores. Não acredito que seja o caso de contratarem os mais baratos. A qualidade da informação tornou-se uma exigência do público, e aqueles que têm uma formação sólida terão vantagem nessa disputa’, concluiu.

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Por Thaís Naldoni

O exercício do Jornalismo virou uma terra sem lei’, diz Ricardo Kotscho

A necessidade de que seja aprofundada a discussão sobre algumas regras que dêem algum norte ao trabalho dos jornalistas é a principal observação feita por Ricardo Kotscho sobre o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do Jornalismo, decidido na última quarta-feira (17), pelo Superior Tribunal Federal (STF).

Segundo ele, a tomada de uma decisão definitiva já é um fator positivo, em razão do tempo em que tal discussão se arrasta. ‘Acho ótimo que, finalmente, a Justiça tenha tomado uma decisão, ao que parece definitiva’, disse. ‘Já não aguentava mais ficar discutindo esta questão do diploma nos congressos, seminários, debates de que participo faz décadas’.

No entanto, o jornalista lembra da importância de que sejam, rapidamente, estudadas algumas regras, que serviriam para nortear o trabalho dos profissionais da área. ‘Com o fim da lei de Imprensa, que todos queriam, e da regulamentação da profissão, sem colocar nada no lugar, o exercício do jornalismo agora virou uma terra sem lei. Acho que esta discussão deveria prosseguir para que alguma regra do jogo seja estabelecida, em defesa das empresas e dos profissionais sérios e, principalmente, dos cidadãos, do conjunto da sociedade’, finalizou.

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Por Cinthia Almeida

Em palestra, Caio Túlio Costa diz ser a favor da queda do diploma desde os anos 80

Caio Túlio Costa declarou ser a favor do fim da exigência do diploma para exercer a profissão de jornalismo. ‘A decisão do Supremo Tribunal Federal veio coroar um trabalho que começou na década de 80’. Naquele período, Caio Túlio trabalhava na Folha de S. Paulo e já fazia manifestação para a queda do diploma. A afirmação foi feita em palestra nesta quinta-feira (18/06) promovida pela Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom).

Jornalista formado pela ECA-USP, Caio Túlio acredita que, a partir de agora, a formação possa melhorar e ser mais completa. ‘Para ser jornalista, basta ter moral e vocação. O curso universitário precisa apenas ensinar técnicas’.

Ele chamou a atenção para a dificuldade que a nova geração de jornalistas têm para interpretar textos. ‘As novas mídias, como celular, e-mail e Twitter, entre outros, tornarão a informação cada vez mais livre. Isso causará uma transformação na linguagem. O mundo está cada vez mais visual’, aposta.

Caio Túlio reforçou a importância de lidar com todas as formas de disseminação da informação para atender as necessidades de empresas cada vez mais globalizadas e se manter no mercado, que está cada vez mais exigente por qualidade final.

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Voltei. Ontem, recebi num jantar em minha casa um casal de amigos, um deles jornalista apegado ao diploma e intransigente defensor da causa. Tentei mostrar-lhe o quanto estava enganado. A não necessidade do diploma, por exemplo, talvez até melhore o nível das faculdades. Sobre isso, comento adiante.

A crise do jornalismo é mundial. No Brasil, como no resto do mundo, afeta diretamente os jornais impressos, onde o desemprego é crescente especialmente por conta da queda das vendas em bancas.

Para sobreviver o jornalismo terá de se reinventar. A mera engrenagem fabril de produção de notícias ficou para trás. No sistema de produção informativa digital, a interação do público e a cooperação entre as novas mídias requerem abordagem dinâmica, cada vez mais pautada no amplo conhecimento.

As dificuldades financeiras dos jornais começaram antes da abolição da obrigatoriedade do diploma e já vinham provocando efeitos devastadores nas empresas. Como disse ontem ao amigo jornalista que me visitava, a apaixonada polêmica sobre a decisão do STF pode ser a oportunidade para avançar. Se não fosse o STF, os jornalistas provavelmente continuariam indiferentes às transformações no mundo e especificamente no mercado de trabalho.

Sobre as faculdades. Na verdade, tirando uns poucos abnegados à seriedade (isenção) na condução do ensino aos estuantes de jornalismo, o que vemos são professores engajados numa profissão de fé única: a cantilena socialista...

As salas de aula estão cada vez mais voltadas a fabricar esquerdóides abobalhados, cuja qualidade do texto e do conhecimento resume-se à defesa “das causas sociais” e ao ataque à “direita”.

É a pandemia do idiota máximo, cuja visão foi embotada pela cumplicidade e adesão política de alguns péssimos professores ao ideologismo do Velho Barbudo --sim, Kalr Max! Sem contar serem também discípulos --quando não, do alto clero-- do petismo de carteirinha.

Portanto mais catequizadores que mestres da profissão; aliás, a maioria nunca esteve numa redação...

Não pretendo por agora arguir a qualidade dos cursos ou mesmo dos professores de jornalismo. A discussão acorre quanto à decisão do STF, porquanto irrevogável. Cabe agora recolher os cacos e tocar a vida adiante. Afinal, o jornalismo vai continuar a existir!

Um comentário:

Lula disse...

Muito bom texto, David. Enquanto isso, somos obrigados a ler um punhado de jornalistas com diploma que não conseguem escrever uma lauda sem que maltrate cruelmente a nossa língua. Erros de português e, pior, de ordenação das ideias. O primeiro ainda é possível ter conserto. Mas desenvolver a expressão, isto envolve algumas variáveis ocorridas durante a formação do indivíduo - nenhuma delas originária obrigatoriamente de uma faculdade de jornalismo. E aí, é dificil ajeitar a criatura quanto a este defeito a esta altura da vida.