Domingo, 21 de Junho de 2006 - 19h00

Muita Calma Nessa Hora

A revogação pelo STF da exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista deixou muita gente chateada no querido Sergipe. A reação adveio de diferentes setores: jornalistas-professores, jornalistas-sindicalistas e jornalistas-cabeças-ocas.

Confesso, não entendo o descalabro dos protestos. Afinal estamos falando dos homens e mulheres supostamente mais bem informados do pedaço.

Uma das queixas seria por ter gasto dinheiro e anos de estudo “para nada”. Santa inocência! Jornalismo exige conhecimento. Se a faculdade de jornalismo é boa o suficiente para passar algum conhecimento, terá cumprido sua missão. A não ser para quem fez faculdade de jornalismo em busca apenas do diploma, e não do conhecimento.

A reserva de mercado afeta só quem não se preparou para competir. Fernando Sávio, César Gama e Hugo Costa jamais precisaram de diploma. Chegar perto deles exige ralar muito numa redação, ler compulsiva e diuturnamente, investigar, e escrever, escrever, escrever...

A exigência do diploma começa com “Os Três Patetas”. Não os extraordinários Moe Howard, Larry Fine e Curly Howard, gênios do pastelão americano, mas a camarilha do movimento militar de 1964, que aplicou um golpe no golpe e apossou-se do governo em agosto de 1969: general Aurélio de Lira Tavares, almirante Augusto Rademaker e o brigadeiro Márcio de Sousa e Melo.

“Os Três Patetas”, conforme definia a trupe o deputado Ulysses Guimarães, imaginaram um ardil para impedir a presença de alguns estorvos nas redações. Gente cuja atividade investigativa, a capacidade crítica e a ousadia fez surgir o AI-5. A “solução final” pariu a exigência do diploma. Até então, advogados, economistas e professores atuavam também como jornalistas.

No mundo

Nos Estados Unidos a maioria esmagadora dos profissionais contratados cursaram faculdade de jornalismo. Não há exigência do diploma em lei. Porém, o país conta com 400 faculdades e universidades de jornalismo; 120 oferecem pós-graduação na área e 35 oferecem doutorado. Na Alemanha também não há exigência do diploma em lei. A situação se repete no Reino Unido, França, Suíça, Suécia...

O Brasil acostumou-se às regulamentações. Foi-se a malfada Lei de Imprensa. A censura caiu na Constituição de 1988. Por aqui, a formação jornalística se baseie na americana, mas não prescindimos dos “marcos regulatórios”, que lá não existem. Um passo à frente na democratização midiática: o fim da exigência do diploma nas redações brasileiras.

Resolvi retomar o tema por entender que o exercício digno da profissão de jornalista, com ou sem diploma, faz o bom jornalista. Ter vergonha na cara já seria um bom começo.

Portanto, sugiro a todos os jornalistas chateados muita calma nessa hora!

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