E.Zine 28/03 N38

PAVIO CURTO O estoque de chás de ervas calmantes do Palácio do Governo deve estar vazio. Somente a falta delas justificaria a cena ocorrida na noite de segunda-feira durante o lançamento do livro de memórias do desembargador Pascoal Nabuco, envolvendo sua majestade (o príncipe) e o jornalista Jozailto Lima (Cinform). De forma respeitosa, JL questionou sua majestade quanto ao uso de um veículo Astra placas HZQ9175 pago mensalmente pelo Estado, motivo de uma nota publicada no Cinform desta semana. Sem rodeios, já de cara fechada e dedo em riste, o príncipe disse não admitir invasão à sua vida privada e não ser do seu feitio dar satisfação a absolutamente ninguém! Assistindo a contenda numa roda havia um seletíssimo grupo. Houve quem o apoiasse, talvez até precisando. Adiante, Jozailto Lima argumentou ser a vida dos governantes (de maneira geral) do interesse público, e no caso em pauta a sociedade precisava saber a quem o carro servia. Com soberana ingenuidade, sua majestade esperneou, e agourou o Cinform e o abusado JL por mais essa prova do desamor para com ele. Garantiu ser o carro, lotado na SSP (Secretaria de Segurança Pública), usado para dar segurança a familiares, um direito garantido a pessoas do seu status. O “diálogo” prosseguiu num nível bem abaixo do esperado de uma autoridade, no entanto, até este ponto, dele podemos argüir alguns itens visando refletir sobre o ocorrido. Talvez sua majestade ignore ser a vida privada do mandatário um ente público, por centenas de razões. Mas de forma especial por ser ele o responsável pelos bens do Estado. Talvez ignore sua majestade não estar incluso entre as mordomias às quais tem direito um carro de uso (mesmo apenas para dar segurança) dos seus pais, não obstante serem pessoas idosas, queridas de todos. Talvez ignore sua majestade fazer parte da liturgia orgânica do seu cargo a fleuma, a elegância e, acima de tudo, o fluído convívio democrático (e salutar) com as opiniões divergentes e até obtusas. Fosse sua majestade menos monárquica e nababesca, talvez não precisasse ouvir questionamentos como o feito por Jozailto Lima. Talvez até, quem sabe, anteciparia uma resposta dentro dos padrões normais de relacionamento entre administradores públicos e imprensa. Mas se não o é, em respeito às suas legítimas credenciais e a ética social, ao menos tente parecer minimamente educado e evite o trato com rispidez daqueles que por opção não integram seu imenso séquito de lisonjeadores, serviçais, capachos...

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