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Quinta-feira, 14/07/2011 | 14h26
Ainda sobre a política habitacional chinfrim do prefeito comunista
(leia antes o texto abaixo)
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Alguém precisa dizer ao prefeito Edvaldo Nogueira que divulgar com alarde público a distribuição de “auxílio moradia” como política habitacional é um tiro no próprio pé... Como tem sido lento para construir moradias –não obstante ter feito mais casas populares que Marcelo Déda–, Edvaldo Nogueira apela para os paliativos.
É óbvio que os tais gastos com “auxílio moradia” só se justificam onde não há uma política habitacional planejada, que atenda aos mais pobres. Senão, vejamos: os custos do “auxílio moradia” da Prefeitura de Aracaju, segundo assessores de Edvaldo Nogueira, seriam de R$ 600 mil/mês, com benefício direto a 1.850 famílias. Esperteza ou incompetência?
Uma conta simples detona os argumentos do prefeito comunista: uma casa popular com sala, cozinha, banheiro e dois quartos custava ao governo João Alves Filho (2005), no programa de erradicação de casas de taipa, R$ 10 mil (em média), sendo o terreno do beneficiário –a maioria dos casos. Ainda naquele governo, houve o desfavelamento da invasão Mangueiras, na saída de Aracaju. Custo médio por unidade construída: R$ 12,5 mil, já com a infraestrutura (ruas, esgotamento fluvial e sanitário, etc).
Digamos que, de lá para cá, o custo de uma casa popular tenha dobrado, sendo hoje de R$ 25 mil. Caso optasse por construir casas, dentro de um programa planejado e realizado ainda no início da gestão de Marcelo Déda, a turma que comanda a Administração Municipal de Aracaju poderia ter, ao custo de agora, entregue um total de 2.880 casas ao longo da década, apenas com os valores de referência do “auxílio moradia”. Sem esquecer que a PMA dispõe de centenas de terrenos ociosos, sobretudo na Zona Norte.
Por que, então, Marcelo Déda e (logo depois) Edvaldo Nogueira optaram por pagar aluguéis em vilas e cortiços para alojar famílias sem-teto, em detrimento de, de forma planejada, ter solucionado a questão construindo paulatinamente, por uma década exatamente, as casas agora demandadas? São respostas que apenas a suma esperteza politiqueira –afinal, mantem-se a turma no cabresto eleitoral– ou a completa idiotia –coisa que a esquerda já demonstrou ter apenas no campo das ideias– poderia dar...
Trocando em miúdos: o tal “auxílio moradia” é tão somente mais uma danação eleitoreira do PT/PCdoB usando o pobre dinheiro do contribuinte de Aracaju para engambelar (e abusar da boa fé de) quem verdadeiramente precisa do poder público!
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PS – Não devemos esquecer das famílias alojadas em galpões pelo governador Marcelo Déda há quase três anos, sem qualquer definição de política habitacional... Bem, mas que política habitacional, mesmo? 

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Quarta-feira, 13/07/2011 | 18h15
Um programa habitacional chinfrim
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Apesar dos esforços da turma da Prefeitura de Aracaju em querer passar à população que a administração comunista é operosa, que “realiza o maior programa habitacional da história da Capital, tendo beneficiado quase 2000 famílias com casas e apartamentos dignos”, os próprios números divulgados depõem contra o prefeito Edvaldo Nogueira –e por tabela, com seu mestre-criador Marcelo Déda.
De acordo com a jornalista Grace Melo, assessora na Secretaria de Comunicação da PMA, somente nos últimos três meses, a prefeitura aumentou a concessão de auxílio moradia de 1.100 para 1.850 famílias beneficiadas, com custo de cerca de R$ 600 mil/mês aos cofres municipais. Haveria prova maior da inexistência de uma política habitacional séria, que de fato atenda às demandas da população mais pobre?
É verdade que, como diz a querida Grace Melo, “somente no bairro 17 de Março, 950 famílias receberam DE GRAÇA (sem pagar 1 centavo) uma moradia digna!” e que “Até o final de 2012, serão entregues um total de 2.800 casas (GRATUITAMENTE) a famílias que viviam em áreas de risco”. Mas são números irrisórios, risíveis até...
Para efeito de comparação, somente o conjunto Augusto Franco, com 15 mil unidades, construído há mais de 30 anos pelo saudoso e competente governador Augusto Franco em apenas 30 meses, diga-se, abriga hoje uma população de aproximadamente 60 mil pessoas, a maioria absoluta vivendo em casas e apartamentos construídos à época com verbas do Sistema Financeiro da Habitação, programa federal que contava com a complementação de verbas do governo sergipano, responsável pela compra do local onde o bairro foi instalado e pela infraestrutura.
Verdades incômodas, mas que são apenas isso: verdades!
Aracaju, nas gestões de Marcelo Déda e Edvaldo Nogueira –portanto uma década desta turma zombando da cara do povo pobre–, não ganhou um único conjunto habitacional de grande porte. Condomínios fechados do Programa de Arrendamento Residencial atendem, com justeza, às famílias de trabalhadores. Mas trata-se de um programa do governo federal, com 200, 300 unidades por residencial, sem contrapartida financeira da prefeitura, que apenas promove o cadastramento dos interessados em obter financiamento junto à Caixa Econômica Federal, gestora do programa.
Conclusão mais que absoluta: uma década de gestão do PT e do PCdoB, e Aracaju continua com os mesmo problemas habitacionais, apesar de alguns paliativos remendados pelo PAR, mas que não atenderam à demanda da população mais pobre.
É triste, mas essa é a verdadeira verdade...  

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Segunda-feira, 11/07/2011 | 16h40
Um nome, dois CPF
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Causou grande confusão ao meu parco juízo a informação publicada pelo portal Transparência Sergipe, ligado à Controladoria-Geral do Estado, que publica as despesas realizadas pelo Estado de Sergipe e Municípios sergipanos, bem como dos repasses efetuados pelo Governo Federal. Lá no item “Despesas”, seção “Favorecidos” são publicados os dados “das pessoas físicas ou jurídicas, fornecedoras de produtos ou serviços aos Órgãos e Entidades da Administração Pública Estadual, organizadas por Nome ou Razão Social, CPF e CNPJ.” Quando procuro pelo nome do secretário Elber Andrade Batalha de Goes, tenho uma interessante surpresa...
Lá está o nome dele, grafado em duas linhas –aliás, trata-se do único nesta condição–, identificado com dois diferentes números no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) da Receita Federal. Liguei para a Secretaria de Turismo para obter informações sobre a divergência (ou ocorrência, se preferirem). O secretário foi muito gentil e me disse tratar-se de “um erro da CGE”. Os valores pagos a Elber Andrade Batalha de Goes são idênticos nos dois CPF. Não duvido que seja um erro, de fato. Mas, mais uma vez, é o governo Marcelo Déda errando, talvez por displicência, talvez por incompetência, talvez por motivo menos inocente...
Elber Andrade Batalha de Goes disse que vai, mais uma vez, procurar a CGE para “corrigir a falha”. Esperamos que seja breve, afinal um cidadão em função pública com dois números de cadastro na Receita Federal cria uma sensação muito, muito estranha! Abaixo, cópia das páginas do portal Transparência Sergipe (clique na imagem para ampliar), ligado à Controladoria-Geral do Estado, que parece andar nas nuvens –aliás, nenhum novidade nesta gestão do PT.
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Domingo, 10/07/2011 | 14h40
Das virtudes do decrescimento sereno
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Em meio à campanha eleitoral de 2010, pude desfrutar de um instante impar. A leitura –e posterior sucinto debate– do excepcional estudo “Pequeno tratado do decrescimento sereno”, escrito pelo professor emérito de economia da Universidade de Paris–Sud XI (Orsay) Serge Latouche, presente que me foi dado pelo mestre-filósofo e jornalista Sávio Grossi, mente brilhante com a qual tive o prazer de estabelecer prolíficos colóquios e de quem tornei-me grande admirador.
No livro, sem o tom do economês –eis seu grande mérito: traduz o atual debate econômico/social em linguagem palatável–, o professor francês reflete sobre como a atividade humana abusa da capacidade de regeneração dos ecossistemas do planeta, a ponto de comprometer os objetivos econômicos, sociais e sanitários fixados pela Comunidade Internacional, através da Organização das Nações Unidas (ONU), as chamadas “Metas do Milênio”.
Em geral, vindo de um pensador de esquerda, o estudo poderia ser classificado, a priori, como “anti-capitalista”. No entanto, com bases históricas e filosóficas sólidas, Serge Latouche propõe um debate acima do sistema político-financeiro-econômico, no caso a adição de capital ao capital, indo de encontro ao modo de vida da civilização humana, o consumo desenfreado e as consequências deste crescimento infinito num mundo finito, com recursos renováveis cada vez mais escassos.
O decrescimento proposto pelo cientista francês decerto não é uma inversão mecânica do crescimento, mas a construção de uma sociedade mais sóbria e, sobretudo, mais equilibrada. Com efeito, seria o abandono do crescimento ilimitado, objetivo cujo real interesse não é outro senão a busca do lucro por quem detém o capital, com consequências desastrosas ao meio ambiente –prejuízos que terão de arcar as gerações futuras, em detrimento do bem-estar de quem hoje habita a Terra.
Serge Latouche alerta: “A regressão social e civilizacional é precisamente o que nos espreita se não mudarmos de trajetória (...) uma sociedade cuja meta seja viver melhor, trabalhando e consumindo menos. Uma proposta necessária para que se volte a se abrir espaço à inventividade e à criatividade do imaginário, bloqueado pelo totalitarismo economicista, desenvolvimentista e progressista.” Neste sentido, em um sistema baseado na acumulação ilimitada, quando há desaceleração, ocorrem as crises, como as que vemos na Europa (zona do euro) e EUA, agora...
Para finalizar esta minha retórica domingueira (sobretudo após saber que em outubro a humanidade alcançará a cifra de sete bilhões de viventes), pois seriam necessárias muitas e muitas páginas para prosseguir com um debate tão excitante, acresço –com perdão da palavra– a este escrito o que Serge Latouche chama de “ingredientes necessários à sociedade de consumo (desenfreado)”: a publicidade, que cria o desejo; o crédito fácil e “vantajoso”, que fornece os meios à aquisição de bens e produtos que por vezes não se precisa; e a obsolência acelerada (e programada) dos produtos, que renova a necessidade incessante deles. No tocante à publicidade, não sem razão, tem o segundo maior orçamento global, perdendo apenas para o da indústria de armamentos bélicos.
O debate proposto por Serge Latouche não para aqui, naturalmente. Para prossegui-lo, sugiro que se leia o livro...
Não faltará oportunidade para um embate baseado nas suas revolucionárias ideias, que, aliás, não surgiram com ele, mas pela observação de vários homens e mulheres, ao longo do último século, para quem a acumulação de riqueza tem sido bastante nociva à humanidade.
E me vem à mente a história do monge que foi visitado por um homem muito rico. Ao adentrar no amplo santuário-casa, o estrangeiro notou a completa ausência de móveis (havia apenas uns poucos tapetes espalhados ao léu) e quis saber o porquê. O monge, para surpresa do visitante, lhe fez a mesma inquirição: “E os seus móveis, onde estão?”, ao que ouviu: “Mas eu estou aqui de passagem!” “Pois é, eu também”...
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PS – As contradições da vida... Hoje, revendo alguns vídeos que considero muito interessantes no YouTube, detive-me num que trata sobre a evolução da qualidade de vida (saúde) da humanidade nos últimos 200 anos. O médico inglês de origem dinamarquesa Hans Rosling mostra a história do desenvolvimento do planeta nos últimos dois séculos, transformando estatísticas em animação gráfica interativa. O material, de grande relevância, foi exibido no programa “The Joy of Stats”, da BBC 4, e está legendado em português. Vale a pena conferir...

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Sexta-feira, 01/07/2011 | 11h15
As dolorosas verdades de Jackson Barreto
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Afora a ficha corrida policial quilométrica, cujos processos descansam nos largos escaninhos do Supremo Tribunal Federal graças à excrescência denominada “foro privilegiado”, o vice-governador de Sergipe, Jackson Barreto, é um político inteligente e experimentado, que não deveria, sob qualquer hipótese, ter a opinião desprezada.
Numa recente reunião-almoço, o governador Marcelo Déda, acompanhado do prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira e do vice-prefeito Sílvio Santos, discutiu acerca de como manter o mando da Capital. A amigos próximos –e em seguida, através de porta-vozes lotados na imprensa– JB queixou-se de não ter sido convidado a dizer o que pensa sobre que política adotar no seu reduto.
Por conta do desprezo, o vice-governador, que nunca foi do tipo contido, diga-se, tratou de expor via Twitter suas impressões sobre o atual momento vivido pelos governistas: “Precisamos de unidade, perseverança, vinculação popular e humildade. Antes de discutir candidaturas, precisamos discutir como fazer para reconquistar o nosso povão na periferia de Aracaju. Temos que botar o pé na estrada (...), peregrinando ao lado dos mais pobres.”
Na mosca... Jackson Barreto, esperto como é, já sacou que o discurso fácil não mais engana, havendo sério risco político. A população quer ações para melhorar a qualidade de vida, que existe somente na propaganda produzida pelo Governo de Sergipe e Prefeitura de Aracaju. Ouvir o reclamo dos pobres, de acordo com JB, seria “nossa missão, se quisermos ganhar a eleição”.
Convenhamos, poucos políticos entendem melhor a alma do povo de Aracaju quanto Jackson Barreto. Ao deixar de ouvi-lo, com sua larga experiência e calejo eleitoral, o orgulhoso Marcelo Déda pode ser surpreendido –como o foi, aliás, com as muitas vaias a ele dedicadas no Forró-Caju 2011. Sem o tagarela, mas dotado de frieza e calculismo, o fim pode ser dolorosamente triste...

consideradas . 
Segunda-feira, 13/05/2011 || 20h45
Honestamente desonestos
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A “operação” Castelo de Cartas parece uma piada pronta – e de muito mau gosto, diga-se! As empresas sob suspeição, investigadas por supostamente realizar licitações fraudulentas em obras de prefeituras do interior, são as mesmas usadas pelo governo estadual em várias empreitadas. Aliás, serviram também à gestão do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, e ao Poder Judiciário...
O governador Marcelo Déda está visivelmente chocado. Tomou conhecimento da “operação”, pela imprensa, somente quando já estava em andamento. As questões que o incomodam: se no interior as tais empresas agiram com desonestidade, teriam procedido com o governo estadual dentro da lei? Como continuar a investigação, se os processos lá e cá se assemelham de modo assustador?
A “operação” Castelo de Cartas deteve 17 pessoas (responsáveis por licitações e donos de construtoras) em Canindé do São Francisco, Arauá, Malhador, Itabaianinha, Rosário do Catete e Japaratuba. Obras de construção de praças, escolas, postos de saúde e saneamento teriam ganhadores pré-estabelecidos, num conluio entre servidores e empreiteiros.
Tudo leva a crer, no entanto, que a “operação” foi feita pela metade. A Secretaria de Segurança Pública, por exemplo, utilizou-se das mesminhas empresas para reformar (e ampliar) delegacias – aliás, conforme um dos empresários detidos, atendendo a pedido de um irmão, dono de construtora, do secretário João Eloy de Menezes. Por que a investigação não teve início na própria SSP?
Talvez não fosse preciso nem ir ao interior. Ao bater à porta da Secretaria da Inclusão Social, chefiada pela primeira-dama Eliane Aquino Déda, a “operação” iria encontrar, apenas neste ano, 21 cartas-convite abertas para “obras emergenciais”. Detalhe espantoso: a maioria tinha um mesmo objeto, o que denota “fracionamento de despesa”, prática considerada ilegal no serviço público.
Mas, se fosse o caso de não incomodar a digníssima consorte do senhor governador, os investigadores poderiam, quem sabe, averiguar as dezenas de licitações da Secretaria de Administração e da Companhia de Obras Públicas, sem citar a SMTT de Aracaju ou ainda a presidência do Tribunal de Justiça, que autorizou a construção de 20 novos fóruns no interior.
Todos utilizaram os serviços da turma de empreiteiros considerados “fraudadores”, que tudo leva a crer, praticava uma espécie de honestidade seletiva. Apenas onde fosse, digamos, conveniente agir assim, claro...
Sabemos nós, investigar é um “direito” da SSP. Se não o faz com a esperada profundidade e inteireza, deve ter lá os seus motivos – muitos motivos, penso eu! Mas que é estranho, é...
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PS – Aposto um bago de jaca que a tal “operação” Castelo de Cartas não vai dar em nada. Se a cambada da construção civil, que foi presa momentaneamente, abrir o bico, meio governo cai – nas algemas! Parece que tudo teve como fito promordial ajudar, assustando certa turma aliada. Mas no meio do caminho, deu errado e o governo foi pego de surpresa. Anotem...
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Leia mais:

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Sexta-feira, 10/06/2011 | 07h05
Crise no governo Marcelo Déda
Encurralado pelos fatos, Iran Barbosa diz que renuncia
Ou Meu pirão primeiro...
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Sem dinheiro, após ter torrado as economias do Estado em busca de reeleger-se e ao grupo que supostamente comanda, o governador Marcelo Déda vive agora o grande tormento de uma crise política no governo, provocada pelo racha entre os professores, classe que sempre o apoiou, e com um segmento do PT que lhe dá sustentação política na Assembleia Legislativa.
Ontem, em pronunciamento exaltado, Iran Barbosa, ocupante da Secretaria Estadual dos Direitos Humanos e da Cidadania, disse: “Não continuarei a integrar um governo que descumpre o piso salarial do magistério.” Prometeu renunciar ao cargo, pois “não poderia ocupar a pasta dos Direitos Humanos, se os professores não são tratados dentro dos direitos constitucionais”.
Numa primeira olhadela, a atitude do professor Iran Barbosa pode denotar extremada solidariedade e pendor à causa dos colegas ante a insensibilidade do governador. Mas como dizia Otto von Bismark, as pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra ou antes de uma eleição. Encurralado pelos fatos, não lhe restou alternativa senão a renúncia.
Licenciado em História, bacharel em Direito, Iran Barbosa já dirigiu o Sintese, a CNTE e a CUT/SE; foi vereador e deputado federal. A trajetória política, portanto, sempre esteve atrelada aos interesses sindicais, sobretudo do magistério público estadual. No Congresso Nacional, teve atuação louvável e reconhecida. Contudo, não obteve coeficiente para reeleger-se.
A quebra-de-braço entre os professores e Marcelo Déda não começou ontem. Arrasta-se, em verdade, desde praticamente o começo da primeira gestão. Greves, paralisações de protesto, manifestações públicas de desamor e até enterro público foram as armas usadas pelos sindicalistas para pressionar o governo. O governador simplesmente os ignorou, a todos...
Há de se ter, no entanto, o brio da decência de reconhecer um ponto crucial: mesmo diante de todas as querelas entre uns e outros, Iran Barbosa aceitou de bom grado o gordo salário de secretário estadual – com as benesses, quase R$ 20 mil – oferecido pelo governador. Até tentou, diga-se, conciliar o holerite e a “luta” sindical, diante das vibrantes assembleias dos professores.
Mas não deu para segurar! O coração explodiu... Tivesse optado por permanecer no emprego arrumado por Marcelo Déda, Iran Barbosa corria sério risco de implodir a ainda incipiente carreira política. Não se deve esquecer que ano que vem haverá eleição. “Meu pirão primeiro!”

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Segunda-feira, 06/06/2011 | 08h15
Pode até faltar cadeia...
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Uma nova elite que o governo nem quer ouvir falar – sua existência é até um constrangimento em certas áreas do poder público. Refiro-me a Turma Classe AAA. Essa turma desta nova Classe AAA é formada por gente que, lícita ou ilicitamente (a parte maior, creio) tem ficado cada vez mais próspera... Um colosso econômico!
Neles se incluem os controladores de ONGs, com amigos dentro dos governos – basta ver o caso da Eunice Weaver em Aracaju: R$ 29 milhões doados com afeto! A Eunice Weaver, graças aos amigos entranhados na Prefeitura de Aracaju, não precisou realizar tarefas nem prestar contas do que fez com tanto dinheiro.
Nesta semana, porém, o Tribunal do Contas do Estado resolveu por tudo em pratos limpos. O TCE, inclusive, detectou várias "irregularidades" nos contratos com a ONG.
Usa-se deste eufemismo – irregularidades – para não ofender os brios do poderoso de plantão: na verdade, a Eunice Weaver é uma lavanderia, mas teve as contas aprovadas na Câmara de Aracaju. Do pleno do TCE, por graça divina, após pareceres dos investigadores do Ministério Público Estadual, espera-se um resultado diferente daquele ofertado pelos vereadores: devolver a grana!
A oposição, não sem razão, acha que esta dinheirama toda tenha financiado campanhas eleitorais. Tudo começa na gestão de Marcelo Déda e segue com Edvaldo Nogueira. Um luxo! A esperança é que nesta semana o TCE possa, de fato, esclarecer o que a Eunive Weaver fez do que lhe foi dado sem pejo; onde investiu quase R$ 30 milhões. Se for fundo, faltará cadeia...

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Quinta-feira, 02/06/2011 | 14h25
A vez dos poetas
Ou De uma jaca, uma limonada
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(Sem título)
Tenho um rio encravado no peito
Há margens e leito e corredeiras
Venha navegar que eu sou manso
Mansinho mansinho
Carlos Cauê, pelo Twitter


Carlos Cauê tem sido, nos últimos anos, louvado pelo trabalho como jornalista e publicitário. Fundador do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em Sergipe, ele comandou diversas campanhas eleitorais entre 1988 e 2010. Tem reconhecida atuação no cenário político sergipano. Foi Secretário de Comunicação da Prefeitura de Aracaju e atualmente é secretário estadual de Comunicação. Mas há uma faceta dele pouco conhecida do público, a de poeta.
Como tal, o jornalista sem histórico e publicitário acarinhado, o homem sorridente e suas idiossincrasias, o cara modesto que habita o mundo real em chinelos de dedo e bermuda despojada, o secretário de Comunicação respeitado pelas vitórias eleitorais, misturam-se todos numa mesma panela e nela, com perdão do cacófato, Carlos Cauê cozinha a dinâmica usada para traduzir em palavras o “sentimento” de quem assessora – no caso em voga, o governo sergipano.
Antes de integrar-se ao “staff pensante” da gestão do PT, o poeta Carlos Cauê emoldurava com relevo sintático a pouco prolífica – em qualquer viés que se pretenda – administração de Edvaldo Nogueira, o prefeito comunista da Capital. Lá, como agora, ele tentava produzir de uma jaca uma limonada. Mestre no manejo das obliterações, com suas letras calculadas uma a uma, ele consegue até fazer da administração de Marcelo Déda um trocado a mais do que de fato é...
Hoje, contudo, a pena comovente de Carlos Cauê logrou o impossível, até mesmo para um poeta: mudar o mundo real; a realidade nua e crua; a vida como ela é! Através do Twitter, nesta fase de ousadia dos agraciados com o dom do poético, Carlos Cauê quis confundir seus atentos seguidores, fazendo de conta que desconhece a “cizânia”, para usar uma palavra sua, entre os líderes das facções políticas em disputa pelo mando de Aracaju. Disse ele:
“Enquanto a turma da cizânia se esforça pra afastar Marcelo Déda e Edvaldo Nogueira, os dois, em Brasília, traçam planos de futuro, juntinhos. Eles viajaram hoje a capital federal, têm compromissos administrativos e almoçam juntos. No menu: política, é claro. Só mesmo uma visão tacanha e coronelesca estranha que a autonomia e o respeito componham uma relação de aliados. Melhore gente.”
A “turma da cizânia”, citada por Carlos Cauê, somos todos nós, os sergipanos que vimos as inserções do PCdoB e PT na TV, com afetos recíprocos (leia mais abaixo Um imbróglio sem fundamento). Ah, aquele louco amor! Como outro famoso poeta, o secretário também busca despir-se do que por hora não lhe serve de adereço à criação – mas não duvide: num futuro próximo, talvez precise optar entre permanecer no conforto atual ou migrar ao ninho de origem!
Pois é, de uma jaca, uma limonada...

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Domingo, 29/05/2011 | 08h55
A celebridade Araripe Coutinho
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Lírica
Quem se lembraria
de trazer-me um pêssego
numa tarde de angustia?
Araripe Coutinho in “Amor sem Rosto”; 1990 (Fundação Estadual de Cultura)
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A imagem de Sergipe na semana que findou esteve associada nacionalmente ao poeta nativo Araripe Coutinho. De forma abrangente, fotos dele em poses desnudas, produzidas no hoje Palácio-Museu Olímpio Campos, foram exibidas ao Brasil através de inúmeras reportagens em meios múltiplos, vindo a fechar o ciclo a coluna “Panorama”, da revista Veja, a mais lida no país.
O próprio poeta tratou de resumir a ânsia da mídia por desqualificar sua “arte”: “Se fosse um marombado, tudo bem! Mas trata-se de um nordestino, baixinho, gay, gordo e preto. É puro preconceito.” Será? Em “Nação de homens nus”, um retrato de Araripe Coutinho ilustra em Veja como “somos literais e despojados de qualquer conceito”, na opinião da revista.
Raros são os texto assinados por Mário Sabino em Veja (foto abaixo). Redator-chefe da publicação, talvez incontido diante do inusitado repasto, tratou ele próprio de rebuscar alguma explicação àquela “arte” cujo fito, segundo o poeta, seria “promover a poesia de Araripe Coutinho, ainda majoritariamente desconhecida dos sergipanos” – e, certamente, dos demais brasileiros.
Comparada por Mário Sabino à Maja Desnuda – obra conceitual do espanhol Francisco Goya, em exibição no Museu do Prado em Madrid, e tema do filme “La Maja Desnuda” (1958) de Henry koster, com Ava Gardner no papel principal –, a “arte” de Araripe Coutinho é destroçada pelo sarcasmo que escândalos do porte costumam provocar em espíritos, digamos, mais desprevenidos.
Do alto da socrática sapiência dos viventes do Sudeste do Brasil, Mário Sabino ignora o existir da poesia do carioca Araripe Coutinho, e talvez nem a pretenda conhecer. Contudo, sacramenta o jornalista: “Literais como somos” – nós, os latino-americanos, “em geral” –, “vamos conceder que, a julgar pelos quilos a mais, Araripe Coutinho tem mesmo muito a dizer.” Seria ele assim, um “vale quanto pesa!”
O poeta conseguiu o feito memorável. Ao despir-se dos tais “conceitos” citados por Mário Sabino e, literalmente, garimpar com o próprio corpo, robusto e roliço, o que chama de “promoção da arte”, da poesia que escreve, despertou o Brasil para si... Além da mídia gratuita, diz-se de agenda lotada para entrevistas com gente famosa. Promoção maior não há!
Sobre o poeta-celebridade, disse a onírica escritora e poeta campineira Hilda Hilst, autora de excitantes elucubrações onanistas: “Diante da selvageria, do pânico, da desordem, só resta a poesia de Araripe Coutinho (...) tão jovem, mas Poeta Maior, (que) dilata de significados o meu dia.”
Sem dúvida, ela o conhecia...
Ilustração captada do/no meu IPad: "conceitual".