MORTE DE GENERAL IRANIANO É PEÇA DE PROPAGANDA ELEITORAL DE DONALD
TRUMP
Se a política é a guerra por outros meios, o mesmo ocorre em
relação à informação. Vejamos o caso do assassinato de Qassim
Suleimani, chefe da Força Quds, do Irã, nas proximidades de um
aeroporto de Bagdá, no Iraque, determinado por Donald Trump,
presidente dos EUA: de um lado a teocracia jurássica tentando impor
“virtudes”, do outro o capitalismo predatório.
O Irã e o Iraque já foram bem diferentes do que são hoje. Já
tiveram uma cara bem mais ocidentalizada e havia alinhamento com as
políticas dos impérios britânico e norte-americano. O rompimento
se deu por causa dos lucros do petróleo – e também pela pressão
de lideranças religiosas que sempre enxergaram o Estado como
extensão das sinagogas e minaretes.
A morte do major-general Qassim Suleimani foi, obviamente, uma
execução extrajudicial, porém, não se deu gratuitamente. Mestre
da espionagem e da intriga do Irã, ele construiu um eixo de poder no
Oriente Médio e há tempos estava na mira do Mossad, serviço
secreto de Israel, responsável por passar as coordenadas para os EUA
executarem o ataque com drone na sexta-feira, 3.
Considerado terrorista no Ocidente pelos muitos atentados que
coordenou – esteve por trás de centenas de mortes americanas no
Iraque e no ataque à embaixada –, em seu país é um herói e
mártir, dado que criou milícias dedicadas a atacar os inimigos do
Irã, com destaque para a Arábia Saudita e Israel, sem que a conta
fosse creditada diretamente no colo dos aiatolás.
Um dos ataques contra Israel, aliás, ocorreu em julho de 1994 em
solo argentino. Um carro-bomba com 400 quilos de explosivos derrubou
a associação israelita, centro judaico em Buenos Aires, deixando 85
mortos e 300 feridos. A ação de 12 extremistas foi organizada por…
Qassim Suleimani, cujo carisma silencioso se somava à imagem de
guerreiro-filósofo que se tornou a espinha dorsal da defesa de uma
nação contra uma série de inimigos.
Na guerra de informação, no entanto, um dado passa batido: de
acordo com a Anistia Internacional, ao menos 143 pessoas foram mortas
e milhares ainda estão nas cadeias do Irã aguardando julgamento por
terem participado de protestos no País pelo aumento dos
combustíveis, em novembro. A ação foi coordenada pessoalmente pelo
onipresente Qassim Suleimani.
Ainda no âmbito da guerra de informação, a morte de Qassim
Suleimani serve como peça de propaganda para a campanha de reeleição
de Donald Trump – os americanos são muito sensíveis ao discurso
de que o governo se preocupa com seus cidadãos dentro e fora dos
EUA, o que é uma falácia, afinal, a questão ainda está ligada ao
petróleo e à política no Oriente Médio.
De uns tempos para cá, especialmente quando forças iranianas ou
apoiadas pelo Irã passaram a combater o Estado Islâmico, Qassim
Suleimani era visto de uniforme no campo de batalha. Divulgada nas
redes sociais, essa publicidade gerou rumores de que ele buscava fama
para uma possível disputa pela presidência do Irã; ele os negou,
dizendo que sempre se considerou apenas um soldado. Pelo sim, pelo
não, os EUA resolveram “cancelar” o general.
Até a chegada de Donald Trump à Casa Branca, Qassim Suleimani havia
sido poupado – como se pôde comprovar agora, com dados de
inteligência e armas de considerável precisão os EUA conseguem
acertar alvos parados ou em movimento em qualquer lugar no planeta;
todo esse poder certamente poderá inibir uma retaliação direta do
Irã, mas a tensão permanecerá. Com a morte do general, os
americanos abrem uma temporada de faroeste numa zona estratégica.
O que virá em seguida? Poucos analistas arriscam qualquer
prognóstico. Porém, uma coisa é certa: o que já é ruim pode
piorar um pouco mais quando o assunto é o Oriente Médio.
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