MACUNAÍMA,
POLICARPO QUARESMA, LULA DA SILVA E JAIR BOLSONARO: QUE BRASIL É
ESSE?
No dia da morte do
diretor de teatro Antunes Filho, aos 89 anos em 03 de maio, recebi em
minha casa um amigo de longas datas, professor aposentado da
Faculdade de Direito da UFBA e que adora Aracaju – a esposa é
sergipana e eles estavam por essas bandas para visitar a família
dela.
Entre uma taça e
outra de um tinto português, acompanhado de iguarias que preparei
para a ocasião, conversamos um pouco sobre a obra inovadora do
mestre Antunes Filho, que deu espaço nos palcos às obras nacionais.
Em 1984, por exemplo, ele lançou em São Paulo a montagem
revolucionária de “Macunaíma”, de Mário de Andrade, que o
velho docente assistiu no Teatro Castro Alves. “Quando as cortinas
se abriram, vimos não a encenação de um livro já bem conhecido,
mas uma revolução, uma visão autoral de uma obra literária há
muito consagrada”, ele lembrou.
A conversa
resvalou ainda sobre livros – que retomo mais adiante – e sobre
filmes. Nas semanas anteriores, eu havia revisto algumas películas
muito interessantes, que traçam um pouco da história do Brasil.
“Getúlio”, de João Jardim, foi uma delas. Outro filme foi
“Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade; e por fim, de Paulo
Thiago, “Policarpo Quaresma, o Herói do Brasil”. As obras de
referência eu já as havia lida ainda cedo, sob os auspícios de
memoráveis mestres como Maria José Oliveira, Walter Soares,
Josefina Brás e João Costa.
Seria inevitável
fazer comparativos entre os personagens em questão e o quadro
político recente e atual.
Getúlio Vargas
não encontra paralelos na atualidade, concordamos eu e o amigo
professor. Trata-se de figura única, bastante litúrgica e
emblemática, que (ab)usou (d)a própria morte para fins políticos.
Aliás, há um trecho inesquecível em “Getúlio”. Cercado de
auxiliares, em meio a uma crise política sem precedentes, decorrente
das acusações de que teria ordenado o atentado contra o jornalista
Carlos Lacerda, o presidente diz que era o único que não podia mexer na Constituição – sugestão de alguns, para que aplicasse
um novo golpe: “Eu já rasguei duas”, comenta.
Já Macunaíma,
era a cara de Lula da Silva, não havia dúvidas. Um “herói”
preguiçoso, que nunca estudou ou se esforçou para aprender. Um
descarado sem nenhum caráter, que nasceu e cresceu no sertão
nordestino como se preto fosse e ao deixar aquela vida seca e sem
oportunidade, em companhia dos irmãos, já adulto, vira branco e se
embrenha em grandes aventuras pela cidade grande. Alçado ao patamar
de líder, passa a desfrutar das benesses da elite, ao lado de
guerrilheiros e prostitutas do poder, vilões milionários e gente de
todo tipo.
Já o capitão
Jair Bolsonaro parece talhado na forja do major Policarpo Quaresma,
um idealista sonhador, que lembra aquelas figuras intervencionistas,
que se julgam visionárias, que dizem amar o Brasil e desejar vê-lo
tão grandioso quanto, acreditam, ele pode ser. Porém, tratado como
louco, é na realidade apenas um sem-noção. Alguém, coitado, que
não consegue compreender a realidade. O major queria fazer do
tupi-guarani o idioma nacional, o capitão quer acabar com o
“marxismo cultural”. Ele também tem o apoio dos filhos e o seu
“Ricardo Coração dos Outros”, trovador e compositor de
modinhas, poderia ser retratado na figura de Olavo de Carvalho.
Rimos muito, eu e
o velho professor baiano. O Brasil é um país bestializado, com uma
literatura onde não existem grandes homens ou mulheres, mas apenas
personagens pigmeus, que estão alheios ao processo social e político
de suas respectivas eras, ou no máximo se aproveitam dele para se
corromper em benefício próprio e dos que lhe cercam. A conversa
estendeu-se até uma segunda garrafa de vinho e, por fim, fui “vítima
feliz” de dois presentes: “História Antiga – Grécia e Roma”,
da professora Flávia Eyler; e “A Política”, de Aristóteles –
que eu já havia lido tempos atrás, mas que, por recomendação do
nobre amigo, vou reler ainda por esses dias.
O Brasil vive
tempos difíceis! Um país que passa por Lula da Silva e Dilma
Roussef, e chega num momento de extrema fragilidade sob os auspícios
de Jair Bolsonaro, talvez nem futuro tenha. De modo que devemos viver
o presente como se não houvesse amanhã, segundo as palavras de
Renato Russo, afinal, conforme vaticinou Torquato Neto, vivemos os
últimos dias de outrora.
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