AFOITO,
DELEGADO-SENADOR ALESSANDRO VIEIRA TEM SUA PRIMEIRA “LUZ” NA
RIBALTA DA MÍDIA
Era para ser o que
foi: alcançar os holofotes da mídia já na largada e assim marcar
presença, a fim de garantir aos eleitores – e também à parcela
da imprensa, especialmente a entusiasmada por detratar o Judiciário
e trazê-lo, não sem razão, ao epicentro do furacão persecutório
– que ele chegou ao Senado da República e não pretende ser mais
um entre os 81 senadores.
A referência para
a primeira “luz” do Delegado Alessandro Vieira no Senado foi a
tal “CPI da Lava Toga”, cujo pedido de criação foi encaminhado
pelo parlamentar sergipano para examinar o “uso abusivo de pedidos
de vista ou expedientes processuais para retardar ou inviabilizar
decisões do plenário” e a “diferença abissal do lapso de
tramitação de pedidos, a depender do interessado” – dois pontos
que dizem respeito direto ao funcionamento interno do Supremo
Tribunal Federal. Nesta segunda-feira (12), o presidente do Senado,
Davi Alcolumbre, confirmou o arquivamento por falta das assinaturas
necessárias – é preciso o apoio de, no mínimo, 27 dos 81
senadores para a comissão ir adiante.
A presença de
Alessandro Vieira no Senado pode ser classificada como “um aborto
da natureza”. Na política, coisas estranhas acontecem sem que, de
modo geral, mudem as características básicas do sistema – a
exceção, obviamente, são as revoluções e as guerras. No caso da
eleição de outubro de 2018, cuja onda de mudança varreu da
política, no país inteiro, nomes já bastante conhecidos do
respeitável público e (também) da Justiça, o ponto fora da curva
foi o fato de todos os candidatos a senador em Sergipe – repito,
todos os candidatos! – pedirem votos para o hoje eleito. Claro, o
delegado-senador acabou em primeiro lugar, o que não deixa de ser
engraçado.
Senador entre os
anos de 2003 e 2010, Almeida Lima escreveu num grupo de WhatsApp
texto sob o título “Cartão de apresentação”, no qual
questiona, ao debater a primeira “luz” do delegado-senador: “Será
que essa foi mesmo a intenção do parlamentar” (investigar os
tribunais, “no sentido mais amplo da palavra, o de serem
conhecidos, de maneira ampla e profunda, a fim de lhes assegurar boas
condições para que a prestação da justiça seja célere e de
qualidade”)? Conclui, perguntando: “Quem poderá nos dizer?
Parece-me que somente ele mesmo, e mais ninguém”.
De acordo com
Almeida Lima, caberia ao delegado-senador, que tem formação
jurídica – “e, mesmo que não a tivesse, seria obrigação dele,
como parlamentar” –, ler e conhecer o Regimento Interno do
Senado, sobretudo o capítulo acerca de matérias de grande impacto e
repercussão, como a proposta de “CPI da Lava Toga”. “Mas será
que o delegado-senador leu o art. 146, inciso II, desse regimento,
que diz: ‘Art. 146. Não se admitirá Comissão Parlamentar de
Inquérito sobre matérias pertinentes: (…) II – às atribuições
do Poder Judiciário’?”.
Isto posto, o
ex-senador aplicou um rosário de inquirições, todas bastante
pertinentes: “Será que ele (Alessandro Vieira) leu? Não leu? Caso
tenha lido, por que mesmo assim propôs a CPI? Ele tem consciência
que o presidente (do Senado) ou a Mesa (Diretora da Casa) vai (sic)
indeferir a CPI por ser antirregimental? Ou ele não tem essa
consciência? Se ele sabia ser antirregimental, insistiu em propor
por que (sic) sabia que o povo iria gostar? Se verdadeira essa assertiva, é
o caso dele (sic) ter jogado para a plateia? E jogar para a plateia
não é uma forma de enganação, de criar no povo um sentimento de
esperança que se configura não verdadeira? E se assim for, esse
comportamento é ético? Então, é esse o cartão de visita ou de
apresentação do qual ele se vangloria como delegado-senador? Enfim,
é isso que ele chama de nova política?”.
As perguntas em si
encerram perfeitamente o que poderá advir, além de proporem
profunda reflexão. Sem dúvida, otário ou ingênuo (na melhor das
hipóteses) o delegado-senador não é, aliás, muito pelo contrário!
O respeitável público, anestesiado pelo desejo de vingança contra
a política, o que envolve também o Judiciário – o STF, como
abre-alas, frise-se –, certamente aplaudiu a tal “CPI da Lava
Toga”. Muita gente com quem conversei aprovou a medida. Eu mesmo a
vi com bons olhos, mesmo sabendo-a “inconstitucional”. Talvez,
Almeida Lima não se dê conta, mas o delegado-senador faz apenas o
que os políticos geralmente fazem: jogar para a plateia! Enfim, se
feita à moda antiga ou não, a ação obteve pleno êxito. Deu a
Alessandro Vieira sua primeira “luz”.
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