SEU CELULAR É SEU ESPIÃO – OU, DE COMO A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA
MUDARÁ SUA VIDA
Os temas são distintos, de fato, mas cabem no mesmo (con)texto pois
convergem, talvez não agora, mas num futuro bem próximo. Para
começo de história, falemos da computação quântica, assunto mais
em voga hoje no Pentágono, sede do Poder Militar dos EUA, com
bilhões de dólares em investimentos.
Recentemente, uma reportagem da revista inglesa The Economist tratou
da perda de fôlego da indústria da computação com o “fim” da
chamada Lei de Moore, premissa evocada em 1965 por um dos fundadores
da Intel, o engenheiro Gordon Moore, pela qual a capacidade de
processamento de dados e de diminuição do tamanho dos transistores
duplicaria a cada dois anos.
Qual é o “pulo do gato” dessa história: em termos comparativos,
toda a capacidade de processamento do módulo lunar [o rudimentar e
“imenso” Apollo Guidance Computer (AGC), da Apollo 11], ápice do
poderio tecnológico dos EUA em 1969, faria rir uma criança com um
smartphone barato às mãos. De lá para cá, tudo ficou
infinitamente menor e mais poderoso.
Hoje, diante do novo desafio de manter-se na dianteira tecnológica,
governos [para fins militares] e empresas de tecnologia [para ganhar
dinheiro] investem em abordagens como a computação quântica e a
inteligência artificial. Nos EUA – sempre lá, diga-se –, o
Quantum Artificial Intelligence Laboratory, da Nasa, realiza um
experimento de avaliação do potencial dos computadores quânticos
para executar cálculos difíceis ou impossíveis usando
supercomputadores convencionais. Trata-se de uma iniciativa em
parceria com o Google e a Universities Space Research Association
[associação de pesquisa espacial das universidades
norte-americanas].
A agência espacial utiliza a tecnologia para realizar pesquisas
sobre missões espaciais sem tripulação e para melhorar o suporte e
o controle de missões. Já o Google pretende usá-la para melhorar,
por exemplo, as ferramentas de buscas e o reconhecimento de voz.
Mesmo caríssimo, o investimento nesse tipo de plataforma é
justificável: enquanto os bits dos atuais processadores operam com
os valores 1 ou 0, os qubits podem assumir os valores 1, 0 ou os dois
ao mesmo tempo, o que torna as máquinas quânticas extremamente boas
na solução de problemas com grande número de variáveis, pois são
capazes de testar todas as possibilidades ao mesmo tempo.
No que isso interferirá na vida do cidadão comum – nós? A
conectividade será fundamental no dia a dia em breve, talvez em mais
uns cinco anos. A “Internet das coisas” ou “Internet de tudo”
exigirá alto grau de processamento de dados para colocar objetos
[carros, geladeiras, casas...] em conexão integrada. Junto com toda
essa gama de informação, seremos cada vez mais “vigiados”.
Começa aqui a segunda parte deste escrito: seu celular é um espião!
Muita gente vai achar que se trata de teoria da conspiração ou
apenas mais outra danação de um idiota juramentado, um imbecil
letrado – no caso, Eu, segundo alguns amigos! Porém, a verdade
começa a surgir de modo espartano, aqui e ali. É preciso garimpar e
juntar os dados, para tudo fazer sentido.
A National Security Agency (NSA), por exemplo, testou com sucesso em
2012 um “brinquedo” chamado PlaiceRaider e, desde então, o
introduziu como parte do sistema integrado de vigilância mundial de
“alvos” do interesse do governo dos EUA. Através desse sistema,
conforme denunciou Edward Snowden – in “Os arquivos Snowden”,
do jornalista britânico Luke Hardin –, foram espionados chefes de
várias nações e integrantes de grupos criminosos ou os notórios
terroristas.
Parece coisa de filme de ficção, porém, esse tipo de malware
[PlaceRaider] utiliza a câmera do aparelho e outros sensores para
criar um modelo em três dimensões de um ambiente, permitindo que
seja construído um mapeamento físico do local. Criado pelos
militares dos EUA, ele consegue desligar os alto-falantes do
dispositivo para evitar alertas sonoros indicativos de que uma nova
imagem foi capturada pela câmera.
A NSA também usa malwares como o SoundMiner, projetados para escutar
conversas e decodificar os tons emitidos quando as teclas do aparelho
são pressionadas, além de localizar onde o aparelho se encontra,
via GPS, com precisão espantosa.
Agora, vem a maior danação desta história toda: empresas como
Facebook e Google são parceiras do governo dos EUA nesses projetos e
suas plataformas [incluindo o WhatsApp, do Facebook] foram [e são]
usadas para testar o sistema [secretamente, claro]. As duas gigantes
da tecnologia auxiliam em projeto de inteligência artificial
executados por universidades e pela Defense Advanced Research
Projects Agency (Darpa).
Como tais empresas [Facebook e Google] faturam bilhões de dólares
com a coleta incessante de dados – in “Future Crimes”, do
ex-consultor de Tecnologia do FBI Marc Goodman – a fim de
comercializá-los em forma de anúncios em suas páginas, é óbvio
que usaram [e usam] esses “brinquedos” para seus próprios
interesses, e com o “de acordo” [Eu concordo] dos usuários.
Para fazer a “Internet das coisas” ou “Internet de tudo”
operar conforme o planejamento de extrair cada vez mais informação
– de consumidores, de quem esteja em conflito com a lei ou
simplesmente de quem seja “alvo” das agências de inteligência
governamentais –, o sistema como um todo precisará atingir um alto
grau de conectividade [o que significa conhecer os hábitos das
pessoas de maneira ainda mais intimista] e, para tanto, necessita de
computadores quânticos, com imenso poder de processamento e capazes
de “racionalizar” [inteligência artificial].
Eu acordei após a “pílula vermelha” – Até pouco tempo atrás
eu também duvidava que coisas assim pudessem ocorrer. Imaginava que
empresas a quem confiamos “abrir” nossas vidas e permitir que
vasculhem nossos computadores pessoais, tablets e smartphones seriam
confiáveis, ao ponto de jamais jogarem em meu desfavor. Mas eu era
apenas um inocente, cujas crenças foram forjadas quase no nível de
uma “Matrix”.
Como alguns dos meus melhores amigos, você também pode me achar um
tonto imbecil, crente em teorias da conspiração e dado a acreditar
no que leio. Afirmo que pondero muito, reflito, pesquiso e jamais
aceito uma única opinião sobre qualquer assunto, por isso, num
exemplo sobre questões político-ideológicas, leio autores da
esquerda, da direita e também os anarquistas – meus preferidos.
Rogo que você faça o mesmo.
Mas não acredite em mim! “Perca” você mesmo algumas horas por
dia para entender como somos diária e involuntariamente manipulados.
Leia livros, leia artigos de especialistas em segurança na Internet
e material da imprensa alternativa, que foge da pauta chapa-branca da
maioria dos veículos da grande mídia. Então, verá como somos
presas fáceis para quem fatura bilhões de dólares garimpando dados
que fornecemos gratuitamente e, em certos momentos, com inadvertido
prazer.
Voltemos, por fim, ao início deste longo escrito: seu celular é seu
espião, pode crer, e a computação quântica mudará sua vida,
fazendo com a que a privacidade seja um bem muito caro. Os temas são
distintos, de fato, mas convergirão num futuro bem próximo. Que
fiquemos alertas, se queremos ser livres.
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