PARA EVITAR QUE TANTOS DIGAM
MAIS BESTEIRAS SOBRE O RÁDIO!

O rádio sergipano é a bola da vez. Tema recorrente nas redes sociais, sobretudo por incomodar personagens da política, do direito e, vá lá, também gente com falta do que fazer da vida.
Há até quem critique o rádio sem nunca ter ouvido um programa matinal. Na verdade, sem espanto, a audiência total de todos os programas veiculados nas manhãs aracajuanas, se somados, não perfaz nem 12% dos rádios ligados (Ibope/2014).
O povo – esse “aglomerado indigesto de fragmentos” – sabiamente opta pela música. Ruim, é verdade, mas prefere arrocha e pagode do que ouvir falação (com quase nenhuma informação no entrecorte), na base do berro, muito berro. O microfone funciona para reverberar a soberba, a galhofa e a “panaceia”. Sim, o radiojornalismo sergipano é quase milagroso, conseguindo resolver até unha encravada e terçol.
O que pouca gente sabe é que o rádio já nasceu assim. Se hoje as emissoras sergipanas enfrentam uma grave crise de confiança é porque, em parte, também caiu o nível de vergonha na cara dos comunicadores e o jornalismo foi transformado em “mercadoria” – aliás, afora uns poucos jornalistas e veículos, a credibilidade da imprensa local está em queda livre!
Nos seus primórdios, o rádio sergipano surgiu (1939) para integrar uma ampla rede nacional de comunicação cuja missão primária era manter a ordem pública e unir a nação em torno do ideário político do ditador Getúlio Vargas. A atribuição básica era difundir o conteúdo “educador” do Estado Novo e veicular a propaganda ideológica, ligada à estratégia de defesa nacional.
Primeiro político brasileiro a enxergar a influência social do rádio, Getúlio Vargas o usou para persuadir a massa a se engajar na “doutrina” nacionalista que apregoava. O presidente distribuiu entre amigos e simpatizantes da sua causa concessões para o funcionamento de emissoras particulares e oficializou o rádio educativo estatal. O rádio em Sergipe nasce dessa leva.
Ou seja, a visão patrimonialista brasileira – o uso dos recursos públicos em proveito de causas pessoais, portanto, privadas – está na raiz do nosso rádio.
A primeira emissora sergipana, a Rádio Aperipê, foi implantada dentro do Palácio do Governo pelo interventor federal Eronildes de Carvalho. Era, obviamente, um instrumento do poder público a serviço dos políticos. Lá se vão quase 76 anos de história e, mesmo a emissora nascida para se opor ao regime, a Rádio Liberdade, fundada em 1953 pelo industrial Albino Silva, tinha por “missão” também difundir conteúdo político e ideológico.
A nova feição do rádio brasileiro, hoje extremamente profissional, repleto de mudanças tecnológicas que ampliaram o alcance e a qualidade das transmissões, ainda resguarda o viés político e ideológico inicial. Em Sergipe, contudo, ocorreu a involução do meio. A pauta política foi substituída pela pauta politiqueira e pilantra, cujo foco é enriquecer empresários e comunicadores.
Quem faz o jogo do poder recebe gordos dividendos financeiros. Atores que até ontem trafegavam de marinete, moravam de aluguel e merendavam bolachão com Tubaína, agora despontam entre os “novos” ricos de Sergipe. Andam aboletados em carrões de luxo, repastam nos cardápios exclusivos e convivem nos metros quadrados mais finos de Aracaju (e em cidades como Paris).
A opinião no rádio tem preço, sim! E se há espertos dispostos a comprá-la, há bufões a postos para vendê-la e faturar alto.
Vejam que nada há de novo nessa relação entre o rádio “patrocinado” pelo patrimonialismo e os vigaristas que fingem fazer jornalismo.
O incômodo causado por esses “novos” ricos do rádio no tecido burguês de Sergipe ocorre porque a velha burguesia não tolera quem acende socialmente arrotando e trazendo consigo hábitos e valores culturais “inadequados”. A Justiça está em alerta. O Ministério Público e a Polícia Federal, também.
O rádio fez, faz e fará política sempre, em todos os períodos, sob todos os governantes. Nada mais “normal”, portanto. A pilantragem politiqueira é que atrapalha. O grande público a deplora, e com toda razão.
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Por David Leite ©2015 | 17/02 às 16h20 | Reprodução permitida, se citada a fonte | Com informações da imprensa e fontes de pesquisa | Clique na imagem para ampliar.




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