ACORDA, SINTESE! – E TAMBÉM QUEM
SUPÕE SER A EDUCAÇÃO PRIORIDADE
Antes que me acusem de pegar no pé da turma petista que há duas décadas aboletou-se no Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe (Sintese), reafirmo minha querência e respeito pela causa sindical, sem a qual os trabalhadores não teriam voz nas discussões com os patrões, mesmo que discordando frontalmente dos métodos desse tipo de sindicalismo jocoso e leniente. Mas vamos ao que interessa...
A ONG Todos Pela Educação, em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), aplicou a Prova ABC no final do ano letivo de 2012. Foram avaliadas 54 mil crianças de 2º e 3º ano de 1.200 escolas públicas e privadas em 600 municípios de todo o País. O objetivo do exame era traçar um diagnóstico da alfabetização dos alunos nos primeiros anos do ensino fundamental, com base em testes de leitura, escrita e matemática.
Os dados divulgados em 25 de junho são alarmantes. Mostram que mais da metade das crianças matriculadas no 3º ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas do País não aprendeu os conteúdos esperados. Elas escrevem pior do que leem – 74,1% não têm conhecimento suficiente para identificar temas de uma narrativa e perceber relações de causa em um texto. O Nordeste ficou na rabeira dos resultados de escrita: 86,8% não conseguiram fazer uma boa redação, que pedia ao aluno para escrever uma carta convidando um colega para brincar nas férias. Os maiores problemas foram de coerência e de adequação ao tema, reflexo da fraca formação em língua portuguesa.
A pesquisa também apontou certo abandono do ensino de matemática. A situação é ainda pior se forem consideradas apenas as escolas públicas: 70,8% das crianças têm dificuldades elementares. Conseguem responder a questões básicas, mas ficam empacadas diante de conteúdos complexos. É como se fossem analfabetos funcionais, incapazes de resolver questões mais elaboradas. Nenhum estado brasileiro registrou mais da metade dos alunos no 3º ano do ensino fundamental com instrução adequada em matemática. No Nordeste, 86,4% das crianças estão abaixo do desempenho esperado – no Sudeste, são 57%. Os técnicos da ONG Todos Pela Educação sugerem que a causa para tamanha incapacidade com os números seja a falta de clareza curricular. Ou talvez, por temer que as crianças fracassem, o professor acabe ensinando apenas o conteúdo básico.
Diante desse caos, o tal “Pacto pela Educação Pública” proposto às pressas por Dilma Rousseff numa tentativa de responder às queixas das manifestações de rua nada resolve. É falacioso o discurso sobre os royalties do Pré-Sal para a Educação. A Câmara aprovou projeto que destina 75% deles para esta área e 25% para a Saúde. A população precisa ser informada de que, em média, um poço de petróleo, após licitado e a empresa vencedora devidamente contratada, leva de 10 a 15 anos para começar a operar. Será que a Nação terá de esperar outra década para ver a educação recebendo imprescindíveis investimentos?
Em que pese a má gestão dos recursos até agora aplicados em educação e a falta de resultados que os justifiquem, Dilma Rousseff não precisa esperar pelos “royalties do petróleo” para começar a investir mais em educação, pois tem às mãos uma solução imediata. Repousa no Senado o Projeto de Lei – PL 8035/2010, obrigando o governo a aplicar 10% do PIB em educação. Basta a presidente exigir do relator do projeto que apresse o seu parecer a fim de ser votado pelos senadores ainda neste ano. Dilma Rousseff poderia ainda criar uma campanha nacional de valorização da educação e investir em regras plausíveis de gestão, além de fiscalizar – quando necessário, punir – e cobrar a prestação de contas do dinheiro repassado até agora.
Outro problema a ser enfrentado é a precariedade das instituições de ensino. Um censo de dois atrás mostrou que no Brasil quase 11 mil escolas funcionam em condições degradantes e inapropriadas. Apenas 0,6% das unidades de ensino público funcionam em prédios completos; 44% das escolas não vão além de energia, sanitário e esgoto... Por mais que pareça um contrassenso, aumentar o orçamento da educação não resolve o problema, se a prioridade desses novos investimentos não for a capacitação dos profissionais do magistério, como fez a Finlândia, campeão do Pisa desde 2008, onde os professores do ensino fundamental são os melhor formados e 100% deles possuem no mínimo um mestrado em educação.
Professores dispostos e de alta qualidade técnica, com remuneração justa e prêmios de acordo com o desempenho dos seus alunos fazem grande diferença numa sala de aula, tanto quanto diretores capacitados e treinados para a função, pois sem um gerenciamento qualificado a escola não funciona bem, seja ela pública ou privada. São imensas as consequências econômicas diretas dos sistemas educacionais de alto e baixo desempenho na economia dos países, sobretudo em uma economia globalizada e baseada nas habilidades profissionais. O Brasil já sabe disso. Chegou a hora de arregaçar as mangas e usar todos os recursos disponíveis para melhorar a qualidade do ensino. Disso dependerá o futuro da nação. Não podemos continuar na rabeira do mundo civilizado.
Resumo da ópera: acorda Sintese! Lutar por melhores salários é justo, mas não vai resolver o problema da qualidade da educação. O segredo do sucesso dos campeões mundiais em educação nada tem a ver com métodos pedagógicos revolucionários ou com o uso intensivo de tecnologia de ponta em sala de aula. Apostaram na qualificação do professor, em metodologias baseadas em currículos de comprovada eficiência e numa “cultura” do aprendizado, que valoriza a presença da comunidade na escola. Nos países onde o estudo tem um elevado grau de importância na sociedade e as expectativas que os pais têm dos filhos são muito altas, a educação é levada a sério e frutifica-se em resultados sempre positivos.
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Por David Leite | 02/06 às 18h50

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