Segunda-feira, 12 de Março de 2012 | 12h10 | Livros
Afinal, a quem pode se creditar a vitória na II Guerra Mundial?
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De um lado um presidente – Franklin Roosevelt – atado à cadeira de rodas, vítima supostamente da poliomielite e que morreria sem ver o final do maior conflito do Século XX. No centro da disputa um primeiro-ministro com retórica capaz de fazer chorar – Winston Churchill – e de quem, pelo caráter etilicamente fanfarão, podia-se esperar qualquer sentimentalismo exacerbado. Do lado mais distante, alojado nas estepes geladas do Leste Europeu, um sujeito atormentado pela mania de perseguição e pelo narcisismo patológico – Josef Stálin –, cuja “grandeza interior” permitia-lhe jamais cogitar a derrota.
Três políticos aparentemente divergentes, cada qual pensando e agindo de modos até estranhos, mas que estiveram unidos pelo propósito de derrotar um inimigo comum (Adolf Hitler), muito poderoso e dotado de grande astúcia na arte da guerra – ao menos no começo do conflito...
Jornalista graduado pela Solihull Scholl e pós-graduado pela Oxford University, criador e produtor de inúmeros documentários premiados da BBC/PSB, sobretudo os que enfocam a II Guerra Mundial, Laurence Rees apresenta em “Stálin, os nazistas e o Ocidente” (Larousse, 568 páginas) um panorama de como a política e a diplomacia operaram para, a partir de interesses muito específicos/conflitantes, moldar a segunda metade do Século XX, cenário da Guerra Fria, finalmente concluída com a queda do Muro de Berlim, em 1989.
A condição humana – o livro requer estômago em algumas das narrativas, pois ilustram momentos dolorosos, em depoimentos marcantes dos sobreviventes (soldados e vítimas do horror): “Confrontado com a ameaça de sofrimento pessoal, dificilmente alguém viveria e morreria em nome de um princípio.” A tese de Laurence Rees foi testada ao extremo, especialmente do ponto de vista dos que foram invadidos, desterrados, aprisionados, torturados e, por fim, executados para facilitar o objetivo de garantir o controle absoluto sobre terras (riquezas) e povos (escravos).
A conta é chocante: um milhão de norte-americanos e britânicos mortos entre 1939 e 1945, contra 25 milhões de russos e sete milhões de alemães – afora os mais de seis milhões de judeus poloneses, tchecos, romenos, búlgaros... havendo a catástrofe, por outro lado, trazido à tona um novo tipo de ser humano! Aquele capaz de aniquilar a civilização, com o poder atômico. Aqui, exatamente neste ponto, passa-se a limpo o Século XX: os três poderosos, numa guerra diplomática paralela, tentaram impor condições com vistas ao pós-guerra, motivo para tantas idas e vindas que por pouco não deram sobrevida aos nazistas – o comunismo, que assustava as democracias ocidentais, mostrou-se nas entranhas tanto quanto pior...
Afinal, a quem pode se creditar a vitória na II Guerra Mundial? Josef Stálin teve méritos, decerto. O maior deles foi confiar no aparato militar – apesar de dar-lhes o troco mais adiante, com deportações e execuções ao final da guerra – e usar com inteligência os recursos cedidos pelos norte-americanos e britânicos, não obstante o alto custo em vidas humanas de soviéticos, civis sobretudo! Os alemães foram implacáveis com os cossacos... os soviéticos foram carrascos com os alemães. O líder russo até queria fazer uma parceria com o insano nazista logo no início do conflito; Aldof Hitler passou-lhe a perna, confiando na superioridade bélica e na força física dos alemães. Errou feio...
O livro de Laurence Rees ainda nos leva a conhecer o funcionamento da diplomacia política e sobre os bastidores: as birras de Winston Churchill, a esperteza fagueira de Franklin Roosevelt e o humor sarcástico de Josef Stálin, ingredientes essenciais para a convivência mútua dos três líderes, que raramente estiveram juntos, mas cujo desejo de vencer o inimigo poderoso fê-los ignorar (ou não reagir) as ações indesejáveis dos parceiros – guerra é guerra, e neste sentido “os fins justificam os meios”.
Recomendo! Excelente leitura..

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