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Quinta-feira, 10 de junho de 2010 - 13h30
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 Marcelo Deda x Almeida Lima
Governador trabalha nos bastidores
para impedir senador de ter legenda
Desde o princípio, sabia-se da incompatibilidade –por conta do gênio de cada um– da aliança entre o governador Marcelo Deda e o senador Almeida Lima. Enquanto o primeiro tem por si profunda admiração narcísica e inamovível incapacidade de conviver com o contraditório; o segundo confere no espelho, sempre que possível, se o charme e a inteligência ainda se lhe abundam.
Almeida Lima deixou claro desde a semana passada: será candidato à reeleição e ponto final. Marcelo Deda afiançou a pessoas próximas: “Perco os minutos de RTV do PMDB, mas o senador não subirá no meu palanque nem terá legenda”. O cisma criou-se, conjurado pela disputa de egos. A dúvida é: se o PMDB não importa, como fica a situação de Jackson Barreto?
Diante da decisão do governador, restou a Almeida Lima a opção única de solicitar a intervenção no Diretório Estadual de Sergipe. Em Brasília, a candidatura do senador obteve o apoio de nove dos membros da Executiva Nacional do PMDB –e, pasmem, de 11 da cúpula petista. Nesta quarta-feira, no programa de Gilmar Carvalho, o vice-presidente da Executiva Nacional do PMDB, senador Valdir Roupp, disse não achar justo Almeida Lima ser impedido de disputar a reeleição: “Ele já é senador e nas pesquisas aparece à frente do candidato do PSC (Eduardo Amorim)”.
Na semana passada, Marcelo Deda definiu a provável configuração da chapa governista. Cada partido da base aliada teria apenas um representante, razão pela qual Belivaldo Chagas não mais seria candidato a vice-governador. Valdir Roupp disse, contudo, que o PMDB, “a princípio, não aceitaria esta composição, pois Almeida Lima tem o direito de pleitear a reeleição”.
Almeida Lima, como se sabe, é mestre em contendas. Surpreende a reação dele, por assim dizer, humilde. Através do Twitter ponderou: “... com boa vontade, a solução será encontrada. Quero somar sem excluir. Não fui nem estou sendo levado em consideração. Busquei o diálogo e fizeram ouvidos de mercador. Jamais vi tanta soberba e desdém. Não haverá briga. Acho que posso contribuir muito com a aliança e a reeleição de Marcelo Deda. Por que me excluir? Como vão justificar ao povo de Sergipe a minha cassação sem que eu responda a nenhum processo? Nem a ditadura militar fez isso. Ela, pelo menos, forjava um processo para tentar se justificar à opinião pública nacional e internacional”.
Marcelo Deda também se movimenta. Através do presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, encaminha para evitar a intervenção do PMDB sergipano, e assim manter a configuração da chapa montada para concorrer contra João Alves Filho. Ao construir a engenharia política que permitiu ao senador Antônio Carlos Valadares e aos Amorim manterem-se apoiando o PT, o governador avariou importantes egos. Belivaldo Chagas perdeu a vice-governadoria –foi rebaixado à Secretaria de Educação. A vice ficou para JB, cuja vaga de senador acabou acomodando Eduardo Amorim.
A questão é: talvez, mesmo que quisesse, como Marcelo Deda poderia encaixar Almeida Lima agora sem amputar algum dos já escolhidos? No caso do queixoso senador, existe ainda uma barreira de difícil transposição. O governador  não o perdoa pelas alfinetadas morais (insinuações de improbidade) ditas da tribuna do Congresso, com audiência garantida pela TV Senado.
Por tudo isso, a presença do presidente Lula da Silva em Sergipe pode ser a oportunidade de ouro para o governador tentar, por via do seu oráculo, encontrar a paz, tão necessária para enfrentar o poderoso troco preparado para o Governo da Mudança para Pior (!) por parcela expressiva da população.

Briga de branco
O Twitter definitivamente foi ocupado como palco principal das disputas políticas. Através do microblog, Almeida Lima e Marcelo Deda têm dado muitos recados. O presidente nacional do PT, ex-senador José Eduardo Dutra, um dos comandantes da campanha de Dilma Rousseff, adora polemizar com membros da oposição, sobretudo com o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, transformado numa espécie de desafeto particular.
Ontem, não satisfeito com as mensagens postadas pelo senador Antônio Carlos Valadares –e talvez até por ter algum conhecimento de causa de como age o ex-governador nos bastidores–, José Eduardo Dutra alfinetou: “Caro amigo Valadares, não entendo o por quê de você repercutir tanto possíveis divergências internas do PMDB/SE”. O senador respondeu como fazem os bons coronéis: “... ainda não nasceu o homem capaz de impedir-me de dar minha opinião, ainda mais porque, quando o faço, respeito sempre os demais”.

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