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Terça-feira, 11 de Maio de 2010 – 10h35
> Afinal, ao que serve a oposição?

Afinal, ao que serve a oposição?
no DNA do PT o gene da opinião única: só presta quem coaduna com o projeto das lideranças maiores do partido. Seria uma quase profissão de fé. A nova religião hegemônica e ditatorial adotada pelo petismo estatal. A alternativa seriam as chamas do inferno.
Quando por mais de 20 anos Marcelo Déda atuou na oposição, as ações dos grupos contrários ao governo eram então bastante justas; espécie de contribuição à causa republicana. Hoje no poder, o governador criou a dicotomia dos estrelados: é do bem quem está com ele; e do mal quem é contra!
Nos palanques ou através dos bajuladores aboletados na imprensa, sobretudo no “jornalismo opinativo”, tem-se a impressão de Marcelo Déda ter sempre razão, em contraposição a todo o resto. Tenta-se convencer a população não com a eficiência na gestão da máquina pública, mas pelo cínico apelo emocional da propaganda enganosa ou a desqualificação moral dos adversários.
A julgar pelas queixas da população, amplamente reverberadas na mídia, talvez a ladainha da “mudança” esteja a definhar. Neste tocante, seria a oposição injusta ou irresponsável quando aponta a falta de planejamento e a gritante incompetência da administração Marcelo Déda na Saúde, Educação e Segurança Pública? Torce a oposição pelo pior, conforme cutuca o governador, quando não ignora os apelos da população, sobretudo a mais pobre?
Na prática, Marcelo Déda não deveria ficar contrariado com a atuação dos oposicionistas, porquanto, como ele bem sabe –se é que ainda lembra–, cada um apenas cumpre o papel que foi-lhe definido pelas urnas. Ele o de governar (mal). A oposição de conquistar adeptos a sua causa, que não seria outra senão destronar o atual governo do conforto do poder...
A bola da vez – Desprezado pelo Partido Verde –aliás, num ato de absoluta idiotia política–, o professor Anderson Góis virou uma espécie de “pessoa desnecessária”, após anunciar sua intenção de apoiar João Alves Filho ao governo. Sem palanque para este pleito, restou ao promissor político da nova geração juntar-se a quem teria, em sua ótica, mais condições de derrotar Marcelo Déda. Pois é, bastou a simples declaração de intenção de voto para os áulicos da bajulice governamental decretarem o sepultamento de uma carreira que visivelmente está apenas começando, com a alma de Anderson Góis sendo devidamente recomendada ao sofrimento eterno.

De Anderson Góis no seu Twitter: Os petistas dizem que cometerei suicídio político se ficar com João. E com Déda é suicídio existencial, moral ou ético?
Todos do mesmo lado A contabilidade do “jornalismo opinativo” ignora fatos cruciais quando apresenta como indício da futura vitória de Marcelo Déda o apoio de 65 prefeitos ao governador, contra oito de João Alves Filho. Como memória boa é para poucos, relembremos o embate de 2006. Além da quase totalidade dos prefeitos e lideranças comunitárias, JAF contava naquela eleição, como Marcelo Déda conta agora, com a maioria dos deputados federais e estaduais. Mas acabou derrotado.

Dinheiro não vai faltar – Claro, não se fala abertamente sobre o assunto. No entanto, nos cálculos dos governistas acerca das vantagens oferecidas pelo poder para vencer em outubro, soma-se o caixa do governo –há quase R$ 1 bilhão estocado desde 2007– como “elemento” fundamental para garantir a permanência de Marcelo Déda, levando em conta que o governador, como fez no passado (“Micareta Picareta”, revista Veja de 10/05/2006), será capaz de tudo para obter a vitória.
Novamente me vem à memória um interessante pleito... A campanha a prefeito de Aracaju em 1988, na qual o médico dos pobres Lauro Maia foi fragorosamente derrotado pelo praticamente desconhecido Wellington da Mota Paixão, apoiado pelo mago das urnas, o hoje deputado Jackson Barreto.
O senador Antônio Carlos Valadares, governador de então, era arqui-inimigo de JB, a quem havia defenestrado da prefeitura sob acusação explícita de desvio de dinheiro público. ACV escancarou desavergonhadamente a máquina estadual para derrotar os adversários. Fez festa na periferia da capital com artistas de renome nacional, distribuiu milhares de colchões, botijões de gás, dentaduras, óculos, cestas básicas, e quitou débitos de água e luz...
Jackson Barreto dizia com voz rouca na TV: “Recebam tudo, pois vocês precisam. Mas o voto é secreto. Ninguém sabe em quem você vota. Receba e vote contra quem quer comprar seu voto”. Nas visitas aos bairros, adentrava as casas debochando: “Chegou a 'boneca, o ladrão'... Você vai votar em quem me tirou da prefeitura e me esculhamba todo dia?”.
Wellington Paixão foi eleito com mais de 60% dos votos válidos, com JB sendo transportado nos braços do povo em plena praça pública, para desgosto de Antônio Carlos Valadares, João Alves Filho, José Carlos Teixeira, Viana de Assis... Prova inequívoca de que o poder financeiro nem sempre define resultados eleitorais. Afinal, quando o povo opta por uma liderança, ensina a História, quase nada consegue demovê-lo da escolha.

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