Quarta-feira, 29 de Julho de 2009 – 17h15
O "Assédio Moral" de Marcelo Déda

Rende muita conversa a cavalar deselegância de Edvaldo Nogueira ao mandar retirar da Assembleia faixas em homenagem a Nilson Lima e ao presidente nacional do PSS, ex-senador Roberto Freire, na quinta-feira da semana passada (vide texto anterior).

Entre outros estranhamentos, um ponto ainda não estava devidamente esclarecido. O que pretendia o governador Marcelo Déda ao se dirigir ao restaurante onde ocorria a comemoração da cúpula do PPS?

A praxe é a seguinte: quando o governador se desloca a qualquer local público, integrantes da segurança pessoal são designados para checar o ambiente e suas cercanias. Marcelo Déda não apenas sabia quem estava no restaurante, como já havia sido informado por Edvaldo Nogueira, com quem assistiu a um concerto no TTB, do episódio com as faixas.

O governador chegou ao restaurante e imediatamente foi à mesa onde ocorria a refrega do PPS. Em tom irônico, falando alto e visivelmente nervoso, Marcelo Déda cumprimentou Roberto Freire e disse: “Você conquistou um grande quadro” –referia-se a Nilson Lima. Logo depois, juntou-se ao chefe o garboso “secretário” Edvaldo Nogueira.

Os lisonjeadores do governador lotados na imprensa não disseram, mas havia várias, muitas mesas vazias no restaurante. Marcelo Déda, porém, preferiu sentar-se exatamente à mesa ao lado. Cochichos e mais cochichos com o prefeito comunista eram entremeados por gargalhadas homéricas e algumas palavras soltas, ditas em alto volume –de ambos, diga-se.

Para surpresa dos presentes, após uns goles a mais, Marcelo Déda levantou-se, pegou Nilson Lima pelo braço e dirigiu-se a um canto do restaurante para uma conversa reservada com o ex-auxiliar. Foram longos minutos, no primeiro reencontro deles depois da demissão de Nilson Lima, “por justa causa”, do cargo de secretário (Fazenda).

Ao retornar à mesa, Nilson Lima estava “da cor de papel”. A anterior euforia foi substituída por um ar sisudo. Dali adiante, o ex-secretário permaneceu calado até o momento da despedida. A quem o questionou sobre o teor da conversa, disse: “Nada, nada de importante”.

O clima no restaurante não estava bom. Na chegada do prefeito, uma rápida discussão acirrou os ânimos. Roberto Freire definiu Edvaldo Nogueira como “esbirro da ditadura” –para quem não sabe, “esbirro da ditadura” significa “lambe botas de general”, “aquele que faz o trabalho sujo” ou simplesmente o “puxa-saco”. Que retrucou: “Tirei e mando tirar quantas vezes botem” (referência às polêmicas faixas).

No retorno de Nilson Lima, o ar estava irrespirável. Por decisão geral, as comemorações do PPS foram encurtadas. Meia hora depois, estavam todos do lado de fora. Antes da saída, contudo, um novo momento de tensão. Marcelo Déda se dirigiu em tom autoritário e desafiador, mesmo aparentando brincadeira, ao ex-prefeito de Socorro, José Franco: “Você tome cuidado, você tome cuidado!”.

Aglomerados à porta do restaurante, os próceres do PPS estavam atordoados. Roberto Freire falava de “pressão idéntica à da ditadura”, o criminalista Emanuel Cacho classificou os atos do governador como típicos de “assédio moral” e o arredio José Franco queria retornar ao restaurante para “tomar satisfação”, no que foi dissuadido pelo sempre pacífico líder comunista Wellington Mangueira.

O governador Marcelo Déda, acompanhado do prefeito mauricinho, queria deliberadamente “melar” a festa do PPS por razões óbvias. Isso está mais do que claro. A dúvida é sobre as palavras que ele teria dito a Nilson Lima para provocar reação tão inesperada, a ponto de deixar emudecido o antigo amigo e correligionário.

Marcelo Déda pauta sua atuação política sob a marca do “autoritário”, “prepotente” e “arrogante”. Não são palavras minhas. O próprio Nilson Lima já as utilizou, e disse ao Cinform desta semana ter testemunhado o governador “estimular a desavença entre os secretários”. Um modo muito estranho de governar, convenhamos. Na mesma reportagem, ele ainda disse : “(Marcelo) Déda não tem visão da construção política. Política de verdade não se faz sozinho”.

Conhecendo como poucos o compadre-governador, Nilson Lima deve ter um milhão de razões para ter ficado “da cor de papel” ao conversar com o ex-chefe. Suas palavras ao Cinform são elucidativas: o nível da próxima campanha promete ser quente. Muito quente!

Curiosa Renúncia - A temida jornalista Thaïs Bezerra presenciou todos os fatos narrados acima. Ela estava no TTB –tirou até foto com o “chefe” Marcelo Déda, publicada no caderno dominical do Jornal da Cidade– e seguiu com o séquito governamental ao restaurante. Sentou-se numa bem discreta distância, mas os olhos e ouvidos treinados na arte da fofoca e da futrica estavam atentos. Curiosamente, a moça danada, apesar do burlesco babafá, fez de conta que estava em Paris, sorvendo champanhe bem longe da miúda contenda. Seus escritos, sempre tão recheados de bombásticas "notícias", simplesmente ignoraram o imbróglio. Qual terá sido a razão? Pois é, perderam seus pacientes leitores, apreciadores de chá calmante Maratá...

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