Sexta-feira, 26.06.2009 – 17h50
O Neguinho-Branquelo
Michael jackson em Londres (2006)
A inesperada morte de Michael Jackson sela uma carreira controvertida, tanto pelo carisma do artista quanto pelo homem por trás do astro.
Para muitos é um momento de prestar homenagens. Prefiro refletir sobre a construção e desconstrução da imagem de um dos maiores ídolos da história humana.
Minhas primeiras audições da inesquecível voz de MJ ocorreram ainda na infância. O rádio, paixão desde os meus seis, sete anos, tocava-o a todo instante.
O magnetismo da MJ atraiu a atenção do mundo a partir dos anos 1980. Em 30 anos de carreira, é o artista solo que mais discos vendeu -–cerca de 200 milhões, segundo dados oficiais das gravadoras; ele achava que havia vendido muito mais. Também, a partir dele ocorre a inserção do vídeo musical como peça promocional de discos, usando a força da TV.
A fama, fruto da genialidade para a música e o entretenimento, transformou a vida do garoto pobre, negro e de pai autoritário. De um lado, legou ao mundo um dos mais ricos acervos de R&B, Soul Music e Pop Music. Na contramão, trincou-lhe o juízo.
O rei do pop era alguém solitário. Mantinha-se assim por puro narcisismo, característica indelével dos muito celebrados, cultuados, deificados... No caso dele, narcisismo levado ao paroxismo, fruto da complexa relação mantida com a cor da epiderme e com o fenótipo.
Muitos se aproveitaram do cantor, a começar pelos médicos. Hipocondríaco patológico, pode ter sido vítima da usura e da irresponsabilidade dos que trataram dele ao longo da carreira: desfiguraram-lhe o rosto, deram-lhe remédios para lhe tirar as intensas dores, arruinaram-lhe o cabeção...
Não, MJ não é santo. Desce ao túmulo com a biografia aranhada por pesadas acusações de pedofilia. Relegar o lado delinquente do artista equivaleria a deificá-lo até na morte. Mesmo que agora o espírito cristão sugira um compassivo silêncio, para preservar a “alma”.
Rendo homenagens a Michael Jackson, e expresso minhas profundas condolências aos que o amam mundo afora. Sua forte fidelidade à qualidade da música, sua voz e seus requebrados resumem um dos melhores momentos do fim do milênio passado. Que descanse em paz!
Imagem estilizada com a provável aparência de Michael Jackson aos 50 anos sem as centenas de plásticas, com a cor da pele original e sem qualquer adereços

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